30 de novembro de 2011

Soroban

Sábado passado estava a caminho de mais uma aula e percebi que nunca escrevi nada sobre minhas aulas de soroban aqui. Como é que pode? Já faço aulas há 1 ano e nunca fiz o esforço de escrever um pouquinho que fosse sobre tudo que tenho aprendido lá. Muito, muito feio da minha parte. 

Para os que não sabem, o Soroban nada mais é do que o ábaco japonês. Sabe? O ábaco, aquele que você ouviu em algum momento da sua vida, numa aula de matemática, pode até ter tido um de brinquedo quando era criança, mas nunca soube exatamente como fazer contas com ele. 

Existem vários tipos de ábaco, de várias épocas e várias regiões. O ábaco japonês é uma adaptação do Suanpan chinês (nomes parecidos, nop?) e foi trazido pra cá antes do século XVI. A Coréia também “importou” o ábaco chinês e possui o seu Supan. Muito antes de alguma mente brilhante nascer, crescer, se desenvolver e pensar em inventar uma calculadora, os ábacos já estavam aí pelo mundo. No Japão, o Soroban faz parte da cultura tradicional do país e ainda é parte obrigatória da educação infantil.

Alguns meses depois de chegar no Japão, fui apresentada por uma conhecida ao curso de Soroban para estrangeiros, oferecido aqui em Osaka. No início não me animei muito de perder as sagradas manhãs de sábado para fazer contas, mas acabei cedendo e fui a uma primeira aula. Fiquei tão encantada, que cá estou eu já indo para a minha 4ª prova de proficiência e já sabendo alguma coisa sobre como usar um ábaco. Quem sabe não arranjo um emprego de professora de soroban no ICBJ quando voltar, né? Hihihi! 

O esquema do curso é tão gostoso, que não tem como não se apaixonar. Tudo, absolutamente tudo é gratuito no curso para estrangeiros coordenado pelo Moritomo-sensei. Material em papel para as aulas, soroban (sim, nós ganhamos!) e até o lanchinho do intervalo. As aulas acontecem todo sábado, entre 11h e meio-dia, na Câmara de Comércio de Osaka, no centro da cidade. Resumindo bastante, meu único gasto com o soroban são as passagens de ida e volta. Com certeza, o que se ganha com esse curso nunca poderemos retribuir. Além da gratuidade, somos tratados com muito carinho, treinamos nosso japonês, conhecemos outros estrangeiros e temos os professores mais fofos. 

Como se já não fosse muito, todo ano temos duas cerimônias muito importantes. A primeira é a “Cerimônia de Dedicação”, que acontece no início do ano, para agradecermos pelo ano que passou e prometermos nos dedicar ainda mais no ano que se inicia. Nessa cerimônia, que acontece no templo Tenmangu (o mais famoso de Osaka), fazemos algumas contas compartilhando um grande soroban com outras pessoas e acontece um ritual shintoísta. Após a cerimônia, almoçamos uma deliciosa comida tradicional e ganhamos vários brindes. Ainda recebemos o ‘otoshidama’, que é o presente em dinheiro dado pelos pais ou avós às crianças japonesas nas comemorações de Ano Novo japonesas (a virada do ano é a época mais importante do calendário japonês). A segunda grande cerimônia é a apresentação da turma à Associação de Soroban de Osaka, na qual não fazemos nada, mas dizem ser a mais importante para a turma (eu acho a outra mais legal, daí a ordem). Após essa cerimônia também ganhamos um almoço gostoso e um novo ábaco. 

Resumindo bastante, esse curso é uma das melhores coisas que eu encontrei aqui. Nele ganhei maior velocidade de raciocínio, aprendi e aprendo muito, conheci pessoas maravilhosas e vi um lado muito gentil do Japão. Espero aprender ainda mais e poder levar isso pra sempre. 

Fica a dica pra quem um dia passar algum tempo em Osaka! Procurem pelo Curso de Soroban para Estrangeiros e experimentem um pouquinho da cultura tradicional japonesa de um jeito muito legal.

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